“Era uma vez”,
Num reino muito distante...”.
A imagem arquetípica da personagem "Bruxa" que habita nossas mentes é resultado de uma construção histórica que sofreu todo tipo de influência. Os contos de fadas, como são conhecidos, foram e ainda são um dos principais disseminadores da ideia do mal universal, muitas vezes tendo as bruxas como a personificação dessa força quase inabalável. Essas histórias são grandes portadores de mensagens, elas carregam consigo dilemas pertencentes a toda humanidade, e resoluções que evocam uma sabedoria universal.
Os
contos contém uma estrutura básica, permanecendo no imaginário popular durante
séculos. Seus personagens, reis, príncipes, princesas, fadas e bruxas estão
sempre presentes, independentemente da cultura na qual estes contos estão
inseridos. Entre os personagens que compõem o conto de fadas, uma das mais
marcantes é a bruxa. Ela é misteriosa, independente, conhece a natureza, e por
vezes é capaz de realizar ações incompreensíveis a natureza humana.
O origem da bruxaria
Porém,
para compreendermos melhor as características dessa personagem, é necessário que
voltemos nossos olhos para o passado, mas especificadamente para meados do segundo milênio a.C., período em
que os celtas emergiram na Europa Central e difundiram sua religião, uma das
mais antigas do mundo. A raiz filosófica-espiritual era baseada na reverência a
duas grandes divindades: A Deusa-Mãe e o Deus Cornífero. Acreditava-se que
esses deuses garantiam a prosperidade da descendência, da agricultura, do gado
e o sucesso da guerra. Os druidas, praticantes da religião celta, ensinavam a
arte da agricultura, da cura com ervas, da caça, entre outras coisas.
Realizavam festas ritualísticas em homenagem às divindades, além de iniciarem
as pessoas nos preceitos da arte mágica. Eles também eram versados em muitas
artes de adivinhação, acreditavam na comunicação com os espíritos da natureza e
na previsão do futuro. Daí surge a ideia de bruxaria, práticas intermediárias
entre o plano dos deuses e dos homens. As produções literárias têm seu pé nessa
cultura. Muitas bruxas retratadas nos contos de fadas são personagens com
poderes especiais, capazes de feitos inacessíveis a pessoas comuns e, por essa
razão, muitas vezes representadas como aterrorizadoras.
Podemos dizer que, até o período renascentista, a bruxa era tida como uma pessoa temida, em relação à qual se mantinha certa distância e certa reverência, devidos aos raros dons de quais era dotada. Mas foi apenas a partir do final da Idade Média, que se passou a atribuir-lhe uma representação unicamente negativa as bruxas. Uma das razões que fez a figura da bruxa se tornar um ser tão ameaçador, foi a associação da bruxaria ao diabolismo. Até o século XV, a imagem do Diabo não despertava o imenso horror que viria a provocar, a partir de então. Na Idade Média, mesmo já havendo uma divulgação, através da Igreja, de um diabo monstruoso e apavorante, este coexistia com a ideia de um diabo bonachão, quase “ridículo”, um ser subjugado pela grande figura de Deus. O Diabo, apesar de reconhecido como maléfico, continuava muito distante, muito longe do cotidiano das pessoas comuns... O contato com Lúcifer era, até então, tido como reservado a pessoas condenadas, facilmente reconhecíveis, alheias à comunidade cristã. É, sobretudo, a partir do século XVI, que se espalha a crença de o diabo cultiva seguidores entre as pessoas normais, e as mais suscetíveis seriam as mulheres, já que são descendentes de Eva, aquela que caiu em tentação no paraíso.
Os contos fantásticos e as criaturas encantadas.
Os contos de fadas tem sua origem na história oral, portanto, não possui um autor específico, é anônimo, criado em local e época ignorados, e passado através de gerações. Alguns dos mais importantes pesquisadores dos contos da tradição oral universal foram o francês Charles Perrault, que recolheu várias histórias ainda muito conhecidas, como "Cinderela" e "O Pequeno Polegar", entre outras. Os alemães Jacob Grimm e Wilhelm Grimm, que ficaram conhecidos como os Irmãos Grimm, dedicaram grande parte de suas vidas a recolher histórias contadas oralmente por pessoas comuns. O conto popular possui uma riqueza expressiva e imagética e tende a ser universal, isto é, possui simbolismo e uma estrutura narrativa que é facilmente reconhecida e admirada pela maioria das pessoas, sejam adultas ou crianças, pessoas alfabetizadas ou não-alfabetizadas, gente instruída ou pessoas sem acesso à cultura formal.
Podemos dizer que, até o período renascentista, a bruxa era tida como uma pessoa temida, em relação à qual se mantinha certa distância e certa reverência, devidos aos raros dons de quais era dotada. Mas foi apenas a partir do final da Idade Média, que se passou a atribuir-lhe uma representação unicamente negativa as bruxas. Uma das razões que fez a figura da bruxa se tornar um ser tão ameaçador, foi a associação da bruxaria ao diabolismo. Até o século XV, a imagem do Diabo não despertava o imenso horror que viria a provocar, a partir de então. Na Idade Média, mesmo já havendo uma divulgação, através da Igreja, de um diabo monstruoso e apavorante, este coexistia com a ideia de um diabo bonachão, quase “ridículo”, um ser subjugado pela grande figura de Deus. O Diabo, apesar de reconhecido como maléfico, continuava muito distante, muito longe do cotidiano das pessoas comuns... O contato com Lúcifer era, até então, tido como reservado a pessoas condenadas, facilmente reconhecíveis, alheias à comunidade cristã. É, sobretudo, a partir do século XVI, que se espalha a crença de o diabo cultiva seguidores entre as pessoas normais, e as mais suscetíveis seriam as mulheres, já que são descendentes de Eva, aquela que caiu em tentação no paraíso.
Goya - The Sabbath of Witches (1797-1798)
Os contos fantásticos e as criaturas encantadas.
Os contos de fadas tem sua origem na história oral, portanto, não possui um autor específico, é anônimo, criado em local e época ignorados, e passado através de gerações. Alguns dos mais importantes pesquisadores dos contos da tradição oral universal foram o francês Charles Perrault, que recolheu várias histórias ainda muito conhecidas, como "Cinderela" e "O Pequeno Polegar", entre outras. Os alemães Jacob Grimm e Wilhelm Grimm, que ficaram conhecidos como os Irmãos Grimm, dedicaram grande parte de suas vidas a recolher histórias contadas oralmente por pessoas comuns. O conto popular possui uma riqueza expressiva e imagética e tende a ser universal, isto é, possui simbolismo e uma estrutura narrativa que é facilmente reconhecida e admirada pela maioria das pessoas, sejam adultas ou crianças, pessoas alfabetizadas ou não-alfabetizadas, gente instruída ou pessoas sem acesso à cultura formal.
Nesse contexto, nasce a narrativa popular dos contos fantásticos, que se passam num tempo que não é real nem especificamente determinado, tudo pode acontecer. Os espaços onde elas ocorrem, em geral, são misteriosos e sombrios, como grutas e florestas. Os personagens principais passam por conflitos e são auxiliados por seres sobrenaturais, com poderes e capacidades extraordinárias, entre eles, as bruxas. Os contos de fadas são um paralelo aos contos fantásticos, a palavra fada vem do latim fatum que significa destino, nas histórias desses contos, em geral, possuem personagens como príncipes, princesas, camponeses, entre outros, que são auxiliados por fadas, magos, duentes, entre todo tipo de seres encantados que orientam ou modificam o destino das pessoas. Por serem muito generosos e terem poderes sobrenaturais, eles surgem na "vida" dos personagens nos momentos de grandes dificuldades, quando parece que é impossível superar os conflitos.
Dancing Fairies by Arthur Rackham
A bruxa nos contos clássicos
Nos contos de fadas clássicos e famosos como Branca de Neve, Cinderela, Rapunzel, Bela Adormecida, entre outros, temos sempre presente a figura da bruxa ou madrasta que persegue a bela jovem, se tornando um importante catalisador do processo de individuação da heroína. Para compreendermos a bruxa é importante salientar que se trata de um arquétipo. A bruxa/madrasta representa uma faceta do arquétipo da Grande Mãe, e nele está inserida a bruxa ou madrasta (a mãe diabólica, terrível), a velha sábia e a deusa que representa a fertilidade, bondade e piedade (aspectos da mãe boa). A bruxa é um aspecto extremamente necessário para o desenvolvimento psicológico e para o processo de individualização da mulher. Sem a figura da bruxa , a heroína não sairia de sua zona de conforto.
A madrasta/bruxa má - Branca de Neve - Disney 1937.
...
Estudar a historia dos contos de fadas é de certa forma fazer um estudo da personalidade humana, seus interesses, seus medos e seus conflitos. E nesse pensamento, estudarmos a história da Bruxa é sem dúvidas estudar a história da mulher, a figura feminina sempre foi associada a sentimentos efêmeros, passionais, ditados por uma lógica que difere do mundo real. A figura da Bruxa que temos em nosso imaginário atual, tem sua maior influencia na construção feita pela Igreja medieval, que condenava todas as mulheres de pensamento livre, associando suas ideologias e conhecimentos a figura do diabo. A bruxa é o simbolo máximo da desobediência civil feminina, por vezes grandes mulheres da história, como Joanna D'Arc, mulheres que não aceitavam viver presas às arramas da sociedade, mulheres que questionavam a ordem estabelecida e que ousavam ter uma voz, eram acusadas e condenadas por heresia e bruxaria. Acima de tudo a bruxa é uma provocação, um ideia de libertação, a bruxa é uma mulher livre.
Lilith Painting by Marzena Ablewska
Segundo a lenda Lilith teria sido a primeira mulher de Adão, feita do mesmo barro e ao mesmo tempo, uma igual. E por essa razão ela se recusou a ser submissa ao homem. Deus então a condenou ao Inferno, a transformando em um demônio que atormenta os homens. Seu único pecado foi dizer "não".
Referencias:
VON FRANZ, M. L. O feminino nos contos de fada. Vozes. São Paulo: 2010.
VON FRANZ, M. L. A sombra e o mal nos contos de fada. 3 ed. Paulus. São Paulo: 2002.
GRIMM, Jacob & Wilhelm. Contos de fadas; obra completa. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Itatiaia, 2000.
BARSTOW, Anne Llewellyn. Chacina de feticeiras; uma revisão histórica da caça às bruxas na Europa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995.
BARROS, Alvim Maria Nazareth. As deusas, as bruxas e a Igreja. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 2004
VON FRANZ, M. L. A sombra e o mal nos contos de fada. 3 ed. Paulus. São Paulo: 2002.
GRIMM, Jacob & Wilhelm. Contos de fadas; obra completa. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Itatiaia, 2000.
BARSTOW, Anne Llewellyn. Chacina de feticeiras; uma revisão histórica da caça às bruxas na Europa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995.
BARROS, Alvim Maria Nazareth. As deusas, as bruxas e a Igreja. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 2004
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